Útero descaído: do tratamento conservador à cirurgia

Estima-se que 50% das mulheres sofram de algum tipo de Prolapso de Órgão Pélvico (POP) após o parto. E cerca de 14% dessas mulheres têm prolapso uterino.

Esta condição pode afectar profundamente a qualidade de vida da Mulher, causando-lhe uma sensação de peso na pélvis, sensação de que algo está a preencher a vagina, em casos mais graves pode aparecer uma protuberância à entrada da vagina, desconforto durante as relações sexuais, dificuldade em iniciar a micção, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga e até incontinência urinária. Estas queixas tendem a agravar-se com o esforço e a posição em pé.

Porque é que ocorre o Prolapso Uterino e como o podemos tratar?

Popularmente denominado como útero descaído, a descida do útero através da vagina é clinicamente denominada como prolapso uterino ou apical.

O prolapso ocorre quando os ligamentos que sustentam o útero  perdem firmeza e se tornam “frouxos”, deixando de exercer uma força de suspensão e quando os músculos do pavimento pélvico e o seu tecido conjuntivo enfraquecem, não conseguindo dar um bom suporte a nível inferior.

As principais causas para o Prolapso Uterino estão relacionadas com:
  • Hipoestrogenismo: com a descida dos níveis de estrogénio, a produção de colagénio também baixa, reduzindo a tensão e força dos tecidos de sustentação e suporte. Ao contrário do que se pensa, o hipoestrogenismo não ocorre apenas na menopausa fisiológica, ocorre também em mulheres que se encontram a fazer tratamento hormonal por doença oncológica, assim como em mulheres a amamentar;
  • Parto Fisiológico: a pressão sobre o pavimento pélvico durante o parto fisiológico aumenta o risco de POP. Caso o parto seja prolongado, o risco de causar lesões que comprometem a sua capacidade de contração e sustentação aumenta ainda mais. A multiparidade aumenta ainda mais o risco;
  • Alterações genéticas que comprometam a produção de colagénio (principal fibra que constitui e dá resistência às fáscias e ligamentos de sustentação);
  • Gravidez: durante a gravidez, todos os tecidos de sustentação e suporte são estirados, pelo que a sua tensão pode ficar comprometida;
  • Tosse crónica: o aumento constante da pressão sobre o pavimento pélvico ao longo dos anos aumenta o risco de POP;
  • Obesidade: o aumento de volume abdominal, aumenta a pressão e peso sobre os órgãos pélvicos, pressionando-os e empurrando-os;
  • Obstipação crónica: os esforços constantes para defecar aumentam a pressão intraabdominal e “empurram os órgãos” favorecendo a sua descida;
  • Trabalhos pesados ou desportos com cargas: levantar objectos pesados aumenta a pressão intraabdominal, empurrando os órgãos para baixo, em direção ao pavimento pélvico. Realizar isto com frequência aumenta o risco de POP.

 

Que tratamento deve fazer para o Prolapso Uterino?

A escolha do tratamento ideal depende da gravidade do prolapso, dos sintomas que a mulher sente e do seu estado de saúde geral.

De acordo com as indicações científicas internacionais a Fisioterapia Pélvica é a primeira opção de tratamento para mulheres com prolapsos de gravidade até grau II (inclusivamente), uma vez que é um tratamento conservador, não cirúrgico, nem farmacológico, que impede o agravamento do prolapso e alivia ou elimina a sintomatologia, permitindo adiar a necessidade de cirurgia, não comprometendo a realização da mesma caso seja necessária.

Na consulta de Fisioterapia Pélvica o nosso foco estará em redensificar o tecido conjuntivo do seu pavimento pélvico, assim como em reeducar e refortalecer os músculos. A nossa intervenção também tem em conta a reeducação do complexo abdomino-lombo-pélvico de forma a equilibrar as pressões intraabdominais. E, acredite, os tratamentos são confortáveis e os resultados notam-se dia após dia!

Os pessários (dispositivos removíveis de silicone, que são introduzidos na vagina para fornecer suporte mecânico aos órgãos – como o da imagem abaixo) utilizados de forma contínua ou apenas durante a realização de actividades com cargas elevadas, também são uma solução para prevenção do agravamento do prolapso.

Em casos mais graves o tratamento é cirúrgico, ficando à consideração do seu médico qual o tipo de cirurgia mais adequada ao seu caso, podendo variar entre uma colposacropexia (técnica reconstrutiva que fixa a parte superior da vagina a um ponto firme na região pélvica, geralmente utilizando uma rede sintética), ou em casos muito graves a histerectomia (remoção do útero).

Contudo, mesmo realizando uma cirurgia, DEVE realizar sessões de Fisioterapia Pélvica antes e após a cirurgia, uma vez que estudos indicam que cerca de 58% das mulheres intervencionadas cirurgicamente voltam a ter prolapso e cerca de 1 em cada 3 terá de ser operada novamente. Mesmo que faça histerectomia!

É verdade, quando o útero é retirado ele deixa de integrar a rede de suporte estrutural, fragilizando as estruturas de sustentação e permitindo o prolapso do intestino delgado (como demonstrado na imagem abaixo).


Esta percentagem de recidiva de POP após cirurgia reduz significativamente ao realizar consultas de Fisioterapia Pélvica.

Se quer aprofundar o tema, convido-a a ler também o nosso artigo sobre Prolapsos dos Órgãos Pélvicos, onde explicamos em detalhe os sintomas, os tipos e as opções de tratamento disponíveis.


O prolapso uterino, apesar de comum, não deve ser encarado como uma consequência inevitável do envelhecimento ou da maternidade
.
É uma condição que merece atenção, diagnóstico especializado e um plano de tratamento que respeite a sua história, os seus sintomas e o seu estilo de vida.

Seja através de uma abordagem conservadora ou cirúrgica, é essencial garantir que o tratamento seja personalizado e multidisciplinar. A Fisioterapia Pélvica, tanto no pré como no pós-operatório, tem um papel determinante na melhoria dos sintomas, na preparação do corpo para a cirurgia e na prevenção de recidivas — promovendo uma recuperação mais eficaz, segura e duradoura.

⚠️ Ignorar os sinais ou adiar o tratamento pode comprometer não só o conforto físico, mas também a qualidade de vida, autoestima e bem-estar emocional.

Na Fisiclinic, encontrará uma equipa experiente e dedicada, pronta para a acompanhar com conhecimento e os cuidados mais avançados na área da saúde pélvica.

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Elisa Quintela (OF 9813)
Fisioterapeuta Mestre em Fisioterapia Dermatofuncional com formação especifica em Pós-operatório de Cirurgia Plástica

Bibliografia:
Abrams P, Cardozo L, Khoury S, Wein A. Incontinence. 5th ed [Paris]: ICUD-EAU; 2013. Chapther 15, Pelvic organ prolapse surgery; 1377-1442
Kapoor D, Nemcova M, Pantaziz K, Brockman P, Bombieri L, Freeman R. Reoperation rate for traditional anterior repair: Analysis of 207 cases with a median 4 year follow up. Int J Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2010; 21: 27–31
https://spginecologia.pt/wp-content/uploads/2021/04/2021-08-Minibook-Digital-dos-Consensos-de-UroGinecologia-Setembro-21.pdf


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